Por Tarcisio Burlandy de Melo

O que você faria se o seu banco quebrasse? E se esse banco fosse o responsável por financiar as startups mais inovadoras do mundo? Pois foi isso que aconteceu na semana passada com o Silicon Valley Bank (SVB), a instituição financeira que era considerada o banco das startups.

Em questão de horas, o SVB entrou em colapso por causa de uma crise de liquidez provocada pela alta dos juros nos Estados Unidos. O banco tinha a maior parte dos seus recursos aplicados em títulos do tesouro americano de médio e longo prazo, que perderam valor com a elevação das taxas. Ao mesmo tempo, os seus passivos eram de curto prazo, ou seja, tinham que ser pagos rapidamente.

Foi um erro estratégico grave, que poderia ter sido evitado se o banco tivesse usado operações com derivativos para se proteger das oscilações do mercado. Mas não foi isso que fez o SVB. Ele preferiu apostar na estabilidade da economia americana e na confiança dos seus clientes, formados por fundos de venture capital e empresas de tecnologia.

Mas essa confiança se desfez quando o banco anunciou um prejuízo bilionário com a venda dos títulos e uma oferta de novas ações para reforçar seu capital. Foi o estopim para uma corrida bancária sem precedentes na história recente dos Estados Unidos. Investidores como Peter Thiel sacaram seus recursos do SVB, temendo perder seu dinheiro ou vê-lo congelado pelo governo.

O resultado foi uma falência relâmpago, que deixou milhares de correntistas desesperados e abalou todo o sistema financeiro americano. O governo teve que intervir rapidamente para garantir os depósitos dos clientes do SVB e evitar um contágio para outros bancos regionais, que também sofreram quedas nas suas ações.

Mas qual é o impacto dessa crise para as startups brasileiras? A resposta é: depende. Algumas delas tinham contas no SVB e correram para resgatar seus recursos ou transferi-los para outras instituições financeiras nos Estados Unidos ou no Brasil. Outras não tinham exposição direta ao banco, mas podem sentir os efeitos indiretos da sua falência.

Um desses efeitos é a redução da oferta de crédito para as startups nos Estados Unidos, já que o SVB era um dos principais financiadores desse segmento. Isso pode dificultar a captação de recursos pelas empresas brasileiras que pretendem expandir suas operações no mercado americano ou fazer parcerias com outras companhias de tecnologia.

Outro efeito é a mudança nas perspectivas do ponto de vista societário e mercadológico das startups brasileiras. A crise do SVB pode levar a uma reavaliação dos valores das empresas de tecnologia nos Estados Unidos e no mundo, já que muitas delas são avaliadas com base em projeções futuras de receita e lucro.

Isso pode afetar as negociações entre fundos de investimento e startups brasileiras, tanto nas rodadas de captação quanto nas operações de fusão e aquisição. As startups podem ter que aceitar valuations menores ou oferecer mais garantias aos investidores para fechar os negócios.

Além disso, a crise do SVB pode gerar uma maior cautela por parte dos reguladores em relação às atividades das empresas de tecnologia no setor financeiro. O caso mostra os riscos envolvidos na relação entre fintechs e bancos tradicionais, especialmente quando há uma dependência excessiva entre eles.

As autoridades podem exigir mais transparência, governança e compliance das startups que atuam nesse segmento ou impor limites à sua atuação em determinados mercados. Isso pode afetar o ritmo de inovação e competição no setor financeiro brasileiro, que tem se beneficiado da entrada de novos players nos últimos anos.

Diante desse cenário, o que as startups brasileiras podem fazer para se adaptar à crise do SVB? Algumas sugestões são:

  • Diversificar as fontes de financiamento e não depender de um único banco ou fundo para obter recursos;
  • Buscar parcerias estratégicas com outras empresas de tecnologia ou instituições financeiras que possam oferecer apoio operacional ou comercial;
  • Acompanhar de perto as mudanças regulatórias e se antecipar às exigências dos órgãos competentes;
  • Revisar os planos de negócio e as projeções financeiras para adequá-las à nova realidade do mercado;
  • Manter a transparência e a comunicação com os clientes, investidores e funcionários sobre a situação da empresa e as medidas tomadas para superar a crise.

A crise do SVB é um duro golpe para o ecossistema de inovação mundial, mas também pode ser uma oportunidade para as startups brasileiras mostrarem sua resiliência e capacidade de superação. O importante é não se deixar abater pelo pessimismo e buscar soluções criativas para os novos desafios que surgem.